28 de set. de 2010

Exclusiva com J.T. Krul

J.T. Krul tomou um pouco de seu tempo para nos dar com exclusividade a entrevista que se segue. Nela, o autor fala sobre como começou sua carreira e seu trabalho nos títulos vinculados aos Novos Titãs. Confiram!


Olá, Mr. Krul. Poderia nos falar um pouco de si e como começou a escrever quadrinhos?

Olá! Pode me chamar por J. Bom, sou de Michigan e me mudei para Los Angeles assim que terminei o colegial. Lá, trabalhei para a indústria de entretenimento. Fui muito sortudo ao conseguir um emprego como assistente de produção de SEINFELD. Depois de alguns anos, a sorte novamente bateu em minhas portas quando um cara chamado Josh Ryan levou-me à Marvel. Então, trabalhei com estórias antológicas da editora. Em seguida, conheci Mike, Frank e Peter da Aspen Comics. Antes mesmo que eu percebesse, já estava roteirizando FATHOM e SOULFIRE.

Lugar certo na hora certa, não é? E sobre TITANS #15? Quando e como lhe ofereceram a edição?

Sim [Risos]. Sobre TITANS #15, acho que foi por volta de Março de 2009. Já havia conversado com Eddie [Berganza] e Adam [Schlagman] sobre fazermos algo juntos. Então, quando as edições especiais dos Titãs estavam em desenvolvimento, Geoff Johns sugeriu que eu tomasse Tempest. Brian Cunningham me ligou e assim tudo teve início.

Você já era fã dos Titãs antes de escrever esta edição?

Sou fã do grupo há tempos, mas fiquei surpreso quando me falaram sobre Tempest, pois ele estava desaparecido desde Crise Infinita.

Frequentemente, Tempest era visto como um personagem "fraco", especialmente em seus dias como Aqualad. Você já havia notado esta situação? Como é o Tempest para você e o que tem a dizer sobre o personagem?

Nunca vi Garth como um fracote. Sempre tentaram diferenciá-lo de Aquaman, mas na edição escrita por mim, tentei trazer o verdadeiro herói que o personagem realmente é. Não me refiro a habilidades, mas, sim, ao seu papel, particularmente.

Interessante! Naturalmente, você conhecia o destino de Garth em BLACKEST NIGHT. Com isso, como você procurou desenvolver este elemento na estória? TITANS #15 também contém outra grande revelação: As mortes confirmadas de Delfim e Cerdian. Foi sua ideia ou algo que já havia sido discutido com os editores? E como você decidiu a forma que suas mortes fossem reveladas?

Eu sabia do destino de Garth, óbvio. Mas meu objetivo era dar-lhe seu momento - deixar os leitores saborearem o potencial do personagem e o que ele poderia se tornar. Em relação às mortes de Delfim e Cerdian, conversamos muito sobre isso. Sempre que começo a escrever, uma imagem vem à cabeça - meio que pula sobre você. Assim, tudo começa a fluir deste momento. Na estória de Tempest, eu visualizei Garth nadando através de Atlântida com sua família, enquanto notaríamos a fauna marinha ao fundo. Achei uma imagem poderosa. Então, colocamos Garth nadando solitário, mas com o peso sobre seus ombros, o peso da perda, como em um funeral, por exemplo.


E em relação à BLACKEST NIGHT: TITANS, como tudo começou?

Jamais esquecerei o momento em que me ofereceram tal mini. Eu estava conversando com Geoff e Eddie, enquanto estava em meu carro, próximo ao serviço postal. Assim que recebi a notícia, nada poderia ficar mais perfeito quando me disseram que Ed Benes trabalharia comigo. Foi um dia perfeito!

Muitos dos personagens do Universo Titânico vêm passando por tragédias e mortes ao longo dos anos. Em se falando de um projeto como BLACKEST NIGHT: TITANS, tudo vem à tona. Como compilar toda essa história em tão pouco tempo?

Eu estava ciente de todas as mortes que aconteceram com os Titãs. Entretanto, houve certos aspectos que a DC queria se certificar de que fossem incluídos, como a ligação do poder e da natureza dos Lanternas Negros em relação ao Rapina e Columba, por exemplo. Eles também queriam a aparição da família de Donna, assim como explorar um dos melhores relacionamentos que já vimos nos quadrinhos: Terra e Mutano.

Como você disse há pouco, a mini foi, evidentemente, focada em Rapina & Columba, Donna Troy, Mutano e Terra. Entretanto, há tantos outros Titãs que já morreram. Como você escolheu quais dos falecidos estariam incluídos? Foram escolhidos por algum propósito ou foram os editores que decidiram quem estaria?

Neste mesmo contexto, eu me inteirei sobre toda a história do grupo, analisando todos os personagens que eu pudesse usar, mas preferi focar na qualidade ao invés da quantidade. Sei que há muitos leitores desapontados por não terem visto Duela Dent ou Danny Chase, mas preencher a mini com vários personagens, poderia ofuscar a verdadeira ideia proposta.


Na primeira edição da mini, pudemos notar algum destaque para Estrela Vermelha e Rose Wilson na forma com que eles vêm lidando com suas perdas. Pareceu-nos que algo viria a ser explorado acerca destes personagens. O mesmo podemos dizer sobre o Fantasma, que apareceu na capa de TEEN TITANS #78 e na capa alternativa de BLACKEST NIGHT: TITANS #03. Havia a intenção de explorá-los?

Como você citou, a primeira página da edição #01 mostrou os personagens Estrela Vermelha e Devastadora. A princípio, iríamos, em determinado momento, explorá-los, mas realmente não houve espaço para os mesmos nas três edições da minissérie. A estória se comprometeria com menos tempo ou espaço. Geoff e eu tínhamos ideias legais para Leonid, mas tivemos que deixá-la. O mesmo digo para Ravena, pois tive algumas ideias para ela. Entretanto, não revelarei, pois posso usá-las em algum momento no futuro. Em virtude disso, decidimos, então, transferir a estória de Rose para as páginas de TEEN TITANS. Rose e Slade possuem um intenso dinamismo, que cairia muito bem à idéia central proposta pela saga BLACKEST NIGHT.

Concomitantemente, perguntava-me como trabalhar numa minissérie de grande proporção como esta. Honestamente, não pensei sobre como BLACKEST NIGHT: TITANS pudesse impactar a série principal. Fiz o contrário, focando em como os temas de BLACKEST NIGHT poderiam impactar meu título. Então, meu objetivo principal foi utilizar da premissa da estória e explorar os personagens que eu já estava escrevendo, ajudando a mostrar quem eles são e como pensam, agem, etc. Resumindo, é uma estória que trata de confrontar os medos, perdas e suas consequências.

Na edição DC UNIVERSE: LAST WILL AND TESTAMENT #1, de Brad Meltzer, o Extermiandor diz a Geoforça que Terra fora drogada por ele, deixando-a insana. Este conceito deturpou a ideia original de Marv Wolfman e George Pérez, de que Terra sempre fora uma impostora e insana nata. Em BLACKEST NIGHT: TITANS, sua estória volta ao conceito de Wolfman/Pérez. Vocês chegaram a discutir sobre isso? Você é fã de "O Contrato de Judas"?

Sim, "O Contrato de Judas" é formidável! Seria impossível escrever a mini sem ser fã daquele arco. Particularmente, prefiro a versão de que Tara era insana nata. Ela é uma grande personagem que justifica seu sadismo pela vida que levou. E foi isto que eu quis refletir na mini. Definitivamente, Terra era uma garota má e insana.

Em TEEN TITANS #77-78, você pôde novamente trabalhar com alguns dos personagens dos Titãs: Devastadora e o Exterminador. Pode nos contar como foi o conceito para trabalhar com aquela estória? Rose e Slade têm uma história que se origina nos anos 90. Você realizou alguma pesquisa para preparar a estória, como ler edições do antigo título DEATHSTROKE ou do recente trabalho de Geoff Johns em TT, por exemplo?

Com certeza pesquisei sobre a história destes personagens. Na verdade, é algo que faço realmente, mas em se tratando das estórias de BLACKEST NIGHT, me esforcei mais, pois tudo está vinculado à história do UDC. Li tudo sobre ambos, desde DEATHSTROKE e o que Geoff fez com eles. Mas foi ideia de Geoff e da DC de colocarmos Jericó no arco, para deixar as coisas mais loucas.

Há muitos conflitos entre Rose e seu pai. Como você visualiza o relacionamento entre ambos?

Eu sabia que toda a estória se resumiria no fato dos protagonistas admitirem seus verdadeiros sentimentos, mesmo se isso tivesse que emergir dos próprios Lanternas Negros. Rose e Slade possuem um relacionamento conturbado, mas ao fim do dia, eles ainda são pai e filha, não importa a forma em que são escritos. Família é família! Os motivos de Slade sempre foram questionáveis, mas quis dar um momento de clareza a ele - a despeito de tudo, é claro. É por isso que ele faz o que faz, mas quando sua família está envolvida, tudo pode mudar.

Já Rose, que tem o hábito de sempre ser "do contra", sente em seu imo a necessidade de fazer parte de algo, como ter uma família, um grupo, um relacionamento, por exemplo. Por isso ela sempre quis estar com os Titãs. Entretanto, mesmo com os fatos entre ela e seu pai, Rose jamais poderia descartar o fato de que são parentes (é tudo o que ela tem, na verdade). Por isso que o fim marca muito Rose. Uma vez que ela percebe que sua mãe pode estar vida, isto acaba dando-lhe uma ponta de esperança, proporcionando-lhe a possibilidade de se afastar de seu pai. Ou seja, talvez ele não seja o único parente ali fora.

A morte de Wintergreen nunca foi mostrada realmente. Trazê-lo como Lanterna Negro foi algo para demonstrar tal fato ou veio naturalmente com a estória?

Com certeza eu procurei explorar o fato de Wintergreen ter morrido. Não teria como não utilizá-lo através da temática da saga. Além de ter sido como um irmão mais velho para o Slade, Wintergreen teria um papel central em tal arco, obviamente. Também procurei mostrar que Slade e seu amigo ainda estavam muito próximos quando Jericó possuiu seu pai. Por isso, o General escreveu algo, como um diário, enquanto Slade oscilava sua personalidade.

E sobre Jericó? Joey pode alcançar a redenção após tudo o que ele causou recentemente? Para você, qual o papel do personagem em relação ao pai e à irmã?

Certamente, Jericó se parece muito com Rose e Slade. Ou seja, todos são atormentados pelo passado, mas no caso de Joey, seus demônios são absolutamente literais, uma vez que ele retém resquícios das personalidades daqueles que possui. Tentei configurar um rumo para o personagem, não necessariamente um caminho de redenção, mas dar-lhe sua principal característica - a simpatia e carisma. Ele não é louco, apenas alguém que sofre através de sua alma torturada, que procura certa paz de espírito.

Como você disse antes, uma das grandes revelações foi o fato de que a mãe de Rose, Doce Lili, pode estar viva. Como todos sabem, anos atrás, em DEATHSTROKE #05, a personagem supostamente fora morta, sem evidências do corpo. Por acaso foi algo proposital para algum futuro trabalho com Rose?

Esta ideia nasceu logo no princípio do roteiro. Então, reli as edições antigas dos Titãs e do Exterminador, procurando uma abertura para escrever futuras estórias. Mas isso também serviu para a BLACKEST NIGHT em si. Como Slade é sua única ligação com o termo família, ela acredita que a possibilidade de sua mãe estar viva, lhe garante, finalmente, rejeitá-lo.


Você também roteirizou algumas edições de TITANS, preparando alguns membros para a transição do título para o grupo do Exterminador. De alguma forma, isto limitou suas intenções para tais edições? Foi difícil encontrar uma estória para um grupo em transição?

Às vezes, isto pode se tornar uma armadilha quando você pretende contar alguma estória em determinadas situações, como a transição, por exemplo. Por isso, escolhi focar os personagens em si e suas vidas individuais. Neste caso, a estória é essencialmente interna, sobre o que se passa nas cabeças de Cyborg, Donna Troy e Estelar ao perceberem que devem seguir suas vidas. Na verdade, gostei de ter a chance de escrever algo mais pessoal, pois prefiro jornadas emocionais às físicas.

Pelo que vimos nas solicitações de TITANS #22, os Titãs seriam expulsos de sua Ilha através das ações do General Lane. Não vimos isto acontecer, por quê?

As solicitações são escritas meses de antecedência da publicação de determinada edição. Geralmente, os arcos já estão elaborados e prontos para serem trabalhados, mas quando a estória se trata do Universo dos Titãs, as coisas podem mudar. Originalmente, iríamos conectar o arco à Gerra contra os Kryptonianos, mas acabamos por decidir manter o foco no Titanverso.

Como você visualiza os personagens Estelar e Cyborg? Foi espetacular como você relacionou os temores de Kory através da vilã Fobia.

Kory é uma alienígena. Desde que chegou a este planeta, ela se identificou prontamente com os Titãs, especialmente em seu relacionamento com Dick. Ela perdeu toda sua família e a última coisa que ela gostaria era perder sua nova família. Mas a conexão com o grupo a limita explorar novos horizontes. Em relação a Vic, ele está em paz com suas próprias perdas, mas a responsabilidade que assimilou sobre a vida de outros personagens, tornou-se um fardo para o Titã.


Em THE RISE OF ARSENAL, qual foi seu papel no futuro de Roy Harper? E a partir disso, como você caracterizaria o personagem?

Quando comecei a trabalhar com Roy Harper, a morte de Lian e a perda de seu braço, já haviam sido determinados em CRY FOR JUSTICE. Em minha opinião, Roy é um cara que perdeu realmente tudo que lhe importava. A minissérie não se tratou do que ele perdeu, mas sim de como ele lidaria com tais perdas. A morte de sua filha o mudou para sempre. Isso piora ao notarem que ele nem mesmo começou a lidar com isso.

Sobre Lince, ela sempre agiu de modo frio, como, por exemplo, explodir um país inteiro (Quarac). Em sua opinião, seria ela insana, desprovida de redenção? Ela realmente ama Roy e Lian? Aliás, ela é capaz de amar?

Ela amou Lian, com certeza e, em determinado momento, ela também amou Roy, mas acredito que apenas pela conexão com sua filha. Ela é uma assassina fria e calculista, mas não necessariamente insana ou realmente malévola. Ela simplesmente atua em um plano moral diferente do resto da sociedade.

Alguns dos fãs mais árduos estão irritados com as perdas brutais que Roy sofreu, além de retornar às drogas. O que pode dizer para convencê-los a continuarem acompanhando o personagem?

Encaro isto como o início de uma difícil e longa jornada para o personagem. Vocês podem notar o peso e o significado que quis dar à estória quando Roy realmente percebe que perdera sua filha. Obviamente, como já disse, isto mudará toda sua vida a partir de agora. Ele está repleto de ira, culpa e incapaz de se apegar a algo novamente. Assim, Roy prefere manter –se distante e esquecer de tudo aquilo que o realizava. Parte dele quer morrer. Estou certo de que acompanharei sua jornada ansiosamente.


Seu trabalho vem sendo bem recebido pelos fãs mais intensos. Já teve a oportunidade de experimentar as reações desses fãs através da internet ou em convenções?

Sim. Venho acompanhando algumas convenções, o que é muito divertido. E o fato desses fãs, de longa data, estarem aprovando meu trabalho é simplesmente fabuloso.

Agora que você será o roteirista oficial de TEEN TITANS, poderia compartilhar sobre o que podemos esperar do novo grupo? O que pode nos dizer sobre Mutano e Ravena?

A meu ver, meu trabalho com os Teen Titans se caracteriza unicamente pelo fato de serem uma família. Eles não se juntaram randomicamente. Eles estão juntos, pois querem estar juntos. Eles têm um elo. Claro que haverá alguns atritos, mas cada membro sabe que pode contar com o outro a qualquer momento. Ravena e Gar são membros obrigatórios em meu grupo. Irei falar sobre o relacionamento que possuem cedo ou tarde. Particularmente, estou ansioso a dar grande destaque a Gar, afinal ele é o veterano do time, no momento. Tenho planos para Ravena, mas inicialmente irei trabalhar com o grupo em seu significado literal.

Você tem algum personagem favorito entre os Titãs?

Favorito? É uma questão difícil. Bom, normalmente tento evitar esta questão, enumerando vários, o que eu poderia fazer facilmente, mas acredito que seja Tim Drake. Ele é incrível (talvez até mais que Bruce ou Dick). O que mais gosto nele é que ele não foi trazido à vida heróica através de alguma tragédia. Na verdade, ele entrou nessa por querer tornar o mundo melhor. Tim é esperto, responsável e sempre procura fazer o correto da melhor forma.

Gostaria de deixar alguma mensagem para os fãs brasileiros?

Preparem-se, pois o futuro dos Novos Titãs será muito, muito BRILHANTE.

12 comentários:

Gustavo "Antimonitor" Sleman disse...

Demais!Parabéns Tar!

Ankh disse...

Sem comentários, Tar!
Dessa vez você foi longe demais...
no BOM sentido...
Você BRILHOU.

Luiz Felipe disse...

Espero que Krul seja o salvador dos Titãs, há uma grande expectativa em cima dele. Também quero muito que ele faça um arco com os Titãs mostrando eles irem resgatar o Kid Eternidade que sem dúvidas não merece pelo que está passando.

lan.almeida disse...

O final da entrevista me deu esperança de ver o Tim de volta aos Teen Titans!! :D

Rodrigo Broilo disse...

Idem ao Ian...
Legal eles falar sobre o que ele já fez, isso dá a nós uma idéia do que ele quer fazer e como é seu estilo!
Mais que parabéns, Tar!

Unknown disse...

Gostei demais da entrevista e concordo com o Luiz Felipe quando diz que espera que o Krul seja o salvador dos Titãs.
Pena que a presença deles regularmente aqui no Brasil é incerta!

Rodrigo Broilo disse...

Pois eu acredito que se der certo lá fora, a Panini publica aqui... e como eles tem um ano de gap, dá pra avaliar bem se vale a pena publicar... o que acontece é que a fase Henderson não rendeu o que tinha que render e eles já sabiam que TT estava mal... agora se vender bem lá, vem pra cá... eu acho!

Unknown disse...

Nesse sentido eu queria ser tão otimista quanto você, Rodrigo...

Éden disse...

Eu não acredito que o futuro dos titãs sera brilhante

Éden disse...

Eu não acredito que o futuro dos titãs sera brilhante

Titã disse...

Eu acredito!

Rodrigo Broilo disse...

Adara! Leve nos até Odym!