4 de dez. de 2007

Roy Harper, um arsenal de histórias

No inicio eu costumava ver HQ”s como algo que estivesse localizado num patamar superior à realidade, uma visão tipicamente infanto-sonhadora,; algo em que os elementos não se misturavam, realidade de um lado, ficção do outro. Em um extremo os males, as tristezas, as catástrofes, sejam naturais ou pessoais... No outro, era o mundo perfeito, fantástico, em que homens e mulheres dotados de capacidades sobre-humanas poderiam resolver “quase” todas as situações (na verdade queria dizer: resolver todas as situações).
Lendo uma aventura publicada numa antiga revista, essa linha imaginária e surreal se rompeu na mente desse garotinho e pude perceber que, mesmo na vida desses superseres, os problemas existem, e muitas vezes, mesmo com todos os poderes e as habilidades especiais, tudo isso não auxilia muito, a depender do problema apresentado para ser solucionado. E quem me mostrou isso – que heróis são primeiramente seres humanos – foi o Roy Harper quando, infelizmente, se envolveu com as drogas.

Interessante perceber que, este drama da vida do Roy se deu de uma forma muito sublinhar, discreta como acontece na vida de qualquer pessoa, não havia indícios, praticamente ninguém desconfiava. Ele era um adolescente à sombra de um grande e conflituoso homem Um menino que busca sua independência, busca ser respeitado, entender melhor o turbilhão de sentimentos que o envolve, coisas bem típicas na maioria dos adolescentes.
Com o Ricardito – como era chamado na época – é mostrado que esse caminho pela autonomia, pela auto-afirmação, pode se tomar tortuoso, perigoso, e até mesmo, sem volta (um dos colegas usuários morre de overdose). Entretanto, o jovem arqueiro consegue, com honestidade e reconhecendo suas próprias fraquezas, obter a recuperação. E é claro, ele conta com o apoio da família, dos amigos: o Lanterna Verde e a Canário Negro tornaram-se imprescindíveis.

Após esse momento, o encontro dele, com os outros heróis-mirins redefine sua vida, afinal ele estar entre iguais, eles percebem de imediato isso. E ali surge a amizade, a essência da família Titã que nós conhecemos. Entre os novos amigos, há uma garota, que desperta o interesse de alguns deles; afinal falamos da Donna. Então uma paquera entre eles é praticamente inevitável, na verdade apenas um namoro juvenil, mas que atravessa o tempo, modificando-se, claro, contudo o carinho permaneceu, chegando a ponto do Roy afirmar que ela é a mulher da vida dele.
Coisas ocorrem, o menino amadurece cada vez mais, ou quase, pois ele se torna o verdadeiro “galã da novela das oito”, o “cafajeste” do grupo, o conquistador; e isso o leva a se envolver com várias mulheres, algumas vezes de forma inconseqüente. Este momento na vida do Roy, também serve de reflexão, já que desses namoros relâmpagos, casos passageiros, uma criança nasce. Apesar do susto do recém descoberta, a emoção do papai novato quando vai conhecer a filha nos invade, e neste momento, ali em frente ao berço da pequena Lian, o homem cresce mais um pouco.
Ele levou outra missão adiante também, combater as drogas, e nesse momento, o Roy despe-se do herói, e realiza essa missão, como civil mesmo, para isso tornou-se participante de um programa antidrogas, iniciando assim sua carreira como agente federal. Foi justamente numa dessas missões, em Hong Kong, que ele conhece a mulher que viria a tornar-se a mãe da filha dele. Conhecer e se apaixonar, e vale lembrar, uma mercenária internacional, a sensual e extremamente perigosa, Lince. Roy sente-se tão arrebatado neste momento, que não consegue levar sua missão adiante, a de prender a mulher amada, prefere assim abandoná-la, sem saber que deixa para trás também uma semente sua, já plantada no ventre da Lince.


Como acontece com os outros Titãs, Roy é a prova de como pessoas podem reavaliar suas próprias ações e como isto é importante na formação do caráter de uma pessoa. Ele não só assume a filha, como passa a querer cuidar dela. Esse homem é uma daquelas pessoas que nos mostra que superação e responsabilidade são coisas que podemos adquirir e o quanto elas são importantes.
Quanto o Roy solicita a guarda da filha, o Dick, o tempo todo, está presente ao lado dele no decorrer deste processo; a amizade juvenil, que brotou com o surgimento da Turma, ultrapassa o tempo e o laço que os une, não é apenas sobre planos de combate ao crime ou como salvar o planeta de algum lunático. Eles nos mostram que ser Titã é estar ao lado do outro, acompanhando, dando forças, ser Titã é ser amigo, ser irmão... É assim que se pode defini-los: como irmãos; não que ser irmão signifique concordar com tudo – eles não concordam, discutem, brigam, entretanto sabem que o amor fraterno os liga, e isso é muito, muito mais forte.

Seguindo os passos dos outros companheiros, o Roy cresceu, modificou-se com as próprias experiências, assumiu um outro cognome, assim, definindo seu lugar no mundo, conquistando e construindo uma identidade própria. De moleque à busca do seu caminho a pai devoto; de herói consciente dos seus deveres e responsabilidades a “Don Juan” de arco e flechas, temos a figura do Roy Harper/Ricardito/Arsenal/Arqueiro Escarlate... Ou simplesmente uma pessoa que nos mostra o quanto o ser humano pode se superar... O quanto ele é amigo, apenas amigo pronto a pedir e a oferecer ajuda, quando for preciso!

Autor: Léo Ribeiro

4 comentários:

Arsenal disse...

Valeu, Leo.
Um texto muito bom que resume toda a historia do nosso fanfarrao Roy Harper... hehe...
Parabens...

Rodrigo Broilo disse...

Mais uma obra -prima!
Parabéns por essa forma tão boa e tão humana de ver alguém tão complexo quanto Roy.
E aquela imagem deles juntos ali, de mãos dadas, não tem preço!
Parabéns!

Anônimo disse...

Parabéns, Léo Ribeiro.
Tenho acompanhado seus textos e, às vezes, relendo-os também. Você consegue passar clareza nas opiniões e a sensação que sinto, mas não consigo relatar em papel. Obrigado por representar com palavaras o que sinto em relação aos Titãs.
Obrigado ao Tar Aquino por ter tido a iniciativa de manter a lenda viva!
Abraços.

Anônimo disse...

Que bom que gostaram do texto, mas preciso confessar e dividir os méritos com o Tarcísio, pois esse artigo é o resultado de muitas e muitas confessas e dicas... sem contar a escolha das ilustrações que mais uma vez ele acerta na mosca, como o Rodrigo disse, a imagem do espaço fala por si só...

Jerichofan fico imensamente feliz por conseguir atingir o objetivo e com certeza o sonho, a lenda continuará viva... e só para lembrar, o texto do Joey logo logo estará aqui... rs

Abraços