30 de jul. de 2010

Questão de Opinião: À luz das Emoções

ou "A Mitologia dos Lanternas e suas implicações"

O Espectro eletromagnético é o intervalo completo da radiação eletromagnética, que contém desde as ondas de rádio, as microondas, o infravermelho, a luz visível, os raios ultravioleta, os raios X, até a radiação gama. O Espectro visível (ou espectro óptico) é a porção do espectro eletromagnético cuja radiação pode ser captada pelo olho humano. Identifica-se esta radiação como sendo a luz visível, ou simplesmente luz. Esta faixa do espectro situa-se entre a radiação infravermelha e a ultravioleta. Para cada frequência da luz visível é associada uma cor. Essas cores são as que conhecemos, por exemplo, do arco-íris ou da capa do álbum “Dark Side of the Moon” do Pink Floyd que representa o experimento que descobriu essa particularidade da luz: sua divisão em Violeta, Anil (ou Índigo), Azul, Verde, Amarelo, Laranja e Vermelho.

O espectro visual varia muito de uma espécie animal para a outra. Os cachorros e os gatos, por exemplo, não vêm todas as cores, apenas azul e amarelo, mas de maneira geral, em preto e branco, numa nuance de cinzas. Nós humanos vemos numa faixa que vai do vermelho ao violeta, passando pelo verde, o amarelo e o azul. Já as cobras vêm no infravermelho e as abelhas no ultravioleta, cores para as quais somos cegos. Mesmo entre os humanos pode haver grandes variações. Por isto, os limites do espectro ótico não estão bem definidos.

Aí você pergunta: “Aula de física? Na torre?”. Não! Relaxa! Isso é só uma introdução. O assunto mesmo é Geoff Jonhs (em parte).

Esse cara já foi um dos roteiristas dos nossos Novos Titãs. Ele foi responsável por unir os principais personagens criados na era Marv-George, com os principais integrantes da Justiça Jovem e construir a Turma Titã III. A equipe de Jonhs é a base para o que já se chama de Turma Titã IV, de J. T. Krul. Após isso ele passou por Superman, Lanterna Verde e Flash. Hoje ele é só o Diretor de Criação da DC Comics (coisa pouca).

Apesar do bom trabalho que fez nos Titãs e em Superman, Jonhs chamou a atenção quando chegou a Lanterna Verde. Ao ressuscitar o maior dos Lanternas Verdes da Terra, Jonhs deu o ponta-pé para uma revolução no universo DC, mas principalmente no conceito dos Lanternas, ampliando-o.

Hal Jordan, antes de morrer havia se tornado o vilão Parallax. Muitos leitores acharam, e ainda acham, válida a morte de Jordan em tais circunstâncias, posto que, depois de ser um grande herói, ele foi um grande vilão. O renascimento de Jordan era algo controverso, embora desejado por muitos. O que Jonhs fez foi inocentar Jordan e tornar Parallax uma entidade amarela, do medo, que havia sido trancada na bateria Central de Oa e dominou Jordan. Simples e prático para poder ressuscitar o cara.

Mas isso suscitou algo maior e mais complexo. Havia então Lanternas Verdes que usam seus anéis energéticos para criar constructos de luz a partir da Força de Vontade, Sinestro com seu anel amarelo alimentado pelo Medo e uma série de Safiras-Estrela que costumavam se apaixonar por Lanternas Verdes. Estava lá o verde, o amarelo e o violeta. Geoff então completou o espectro de cores, criando um novo conceito. O Espectro emocional, onde ele foi, em minha opinião, muito feliz: a cada cor foi associado um sentimento, uma emoção.

O Verde é a cor central do espectro visível. No espectro emocional, o verde continuou sendo o destaque mesmo com a criação de novos lanternas de novas cores. E ele continuou sendo a cor da força de vontade, como sempre foi. A Força de vontade acaba sendo o sentimento central, o mais simples, o mais humano. Quando nada mais temos, a força de vontade é o que nos leva adiante. Talvez por isso os Guardiões tenho por vezes tentado inibir outras emoções, para que o poder da força de vontade continuasse forte.

Ao analisarmos as demais cores de cada lado do verde central, podemos ver que as emoções tornam se então antagônicas.

O Amarelo, cor vizinha ao verde, tornou-se oficialmente a cor do Medo, a cor que sempre enfraqueceu a Força de vontade. O poder dos Lanternas Amarelos é aumentado com o medo dos oponentes. Oposto ao medo, também o lado do verde, temos o Azul, sinal de Esperança. Além de usar cores opostas em relação ao verde no espectro, associou-se a eles emoções também opostas. A Esperança acaba com o Medo. O Medo é maior quando não há Esperança. E a Esperança é a catalisadora da Força de Vontade. Exatamente como fazem os Lanternas Azuis. Eles só têm poder quando próximos a um Lanterna Verde. E um Lanterna Verde torna-se mais forte contra um Lanterna Amarelo, quando um Lanterna Azul está por perto.

Ao lado do Azul, há o Índigo, a cor da Compaixão. E para a cor Índigo não temos uma tropa, mas uma tribo. É algo mais fraternal, mas humano, mais de sociedade. Oposto ao Índigo há então o Laranja, a Avareza. E o que melhor simboliza isso do que não termos nem tropa, nem tribo e sim um único Lanterna, o Agente Laranja? E o nome dado ao seu representante não podia ser maior representativo. Agente Laranja era o nome de um produto usado como desfolhante na Guerra do Vietnã pelos soldados americanos. Na sede de vencer a guerra o produto foi produzido sem os devidos cuidados de purificação e acabou apresentando um sub-produto altamente cancerígeno que deixou seqüelas na população e nos soldados. Avareza. Está até no juramento do Agente Laranja: “Meu!”.


Nos extremos do espectro emocional temos o Vermelho, da Raiva, e o Violeta, do Amor. De todos, os mais tradicionalmente antagônicos, embora o vermelho sempre tenha sido associado ao amor e o roxo a raiva (vocês nunca ficaram ‘roxos’ de raiva?), o que também é um sinal de que mesmo tão opostos são sentimento intensos e viscerais, que podem se confundir.

Não bastando associar cor a sentimento, a idéia de Parallax como uma entidade que representa o medo foi expandida, e hoje cada cor do espectro tem sua entidade representante. Os primeiros a aparecerem, além de Parallax, foram a entidade da Força de Vontade Íon e a entidade do Amor Predator. Após, vieram Butcher, a Raiva; Ophidian, a Avareza; Adara, a Esperança; e Proselyte, a Compaixão. Cada entidade tem uma forma, normalmente um monstro com semelhanças com certos animais (Butcher com touro, Ophidian com serpente, Adara com uma ave e Proselyte com uma polvo, o que tem seus sentidos e pode render longas discussões) e cada uma procura um hospedeiro. O Titã e Lanterna Verde Kyle Rayner já foi hospedeiro da entidade Íon.

Atualmente tem se explorado a questão da luz branca, sua entidade e o poder que essa luz pode ter na mega-saga Brightest Day que tem tido implicações nos Titãs, especialmente Rapina e Columba, Osíris e Miss Marte.
A importância de Columba para a mitologia dos Lanternas já vem desde Blackest Night quando ela podia eliminar os Lanternas Negros que captavam e se alimentavam das emoções dos humanos, manifestadas pelas cores do espectro emocional.

Talvez alguns se perguntem: “Mas porque falar disso em um site sobre os Titãs?”. Afinal, além de Kyle, só outro Titã já esteve ligado a uma das Tropas: Ray Palmer, o Eléktron, foi um Lanterna Índigo por um curto período de tempo. Sim, é verdade. Mas a Mitologia dos Lanternas, com diferentes cores, emoções e entidades, está em plena expansão e os eventos ligados a ela ainda estão longe de acabar.
Além disso, devemos pensar na possibilidades, ainda mais quando se fala em Emoções. E uma importante Titã tem poderes baseados na empatia, a capacidade de sentir e utilizar essas emoções em outras pessoas. “A Empatia é, segundo Hoffman (1981), a resposta afetiva vicária a outras pessoas, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação.” Todos sabemos que somos suscetiveis a sentir e transmitir emoções de e para outras pessoas. Muitas pessoas tem uma dita habilidade de sentir o que chamam de “Energia” de outrem, sendo essa “positiva” ou “negativa”. Talvez o fato de a Empatia, poder de Ravena, existir mesmo e de ela ter se tornado mais jovem, especialmente no desenho Jovens Titãs, e próxima ao publico infanto-juvenil de hoje, que ela tenha feito tanto sucesso entre os novos fãs. Mas isso é um a parte. Ravena tem poderes relacionados a emoções e é algo que ainda não foi percebido pelos roteiristas, ou o Espectro Emocional poderia pegá-la.

Independente das minhas especulações e fantasias, o conceito do Espectro Emocional é algo que realmente me fascinou tanto pela coerência existente entre as cores do Espectro Visível com as Emoções associadas quanto pelos personagens marcantes e as possibilidades que tem aberto para todos, especialmente Titãs, de histórias. Inclusive para a pobre e pouco lembrada Garota Arco-Íris, da Legião dos Super-Heróis Substitutos.

Enfim, devo admitir que gostei bastante dos Lanternas Azuis. Principalmente, por serem heróis que fazem alusão a diferentes religiões da Terra (podemos notar referencias ao deus hindu Ganesha, a monges budistas, freiras católicas, entre outros) e serem um sinal de Esperança também para nós (já que aqui discordancias religiosas sempre foram motivos de discussões, guerras e até genocídios).

Mas especialmente nós, fãs de Titãs, temos precisado de Esperança quando a nossos queridos heróis, estejam onde estejam. Que Adara possa nos levar a Odym!

2 comentários:

Justin Weber disse...

Rodrigo, que artigo fascinante! eu nunca tinha parado p/ pensar na coerência das cores dos Lanternas com o espectro emocional! Pra mim eram cores aleatóreas... sem nenhuma referência à física! Parabéns pela qualidade do artigo!

Ankh disse...

Realmente muito bom e muito interessante o seu texto e forma como costurou de forma coesa a relação entre Titãs e Lanternas. Gostei bastante!