15 de jun. de 2012

Por que o mundo precisa de Donna Troy?


Por Rodrigo Garrit
Originalmente publicado no Santuário
Não é novidade que de tempos em tempos uma onda da antimatéria ou os socos de um supermenino mimado alteram a realidade dos quadrinhos da DC Comics. Crise nas Infinitas Terras, Crise Infinita, Zero Hora e o escambau.  Quando um universo fica muito complicado, os fãs perdem o interesse, as vendas caem, e então é preciso fazer algo. Simplificar. (Ou “Ultimizar” no caso da Marvel, embora eles separem os brinquedos em caixas diferentes).
O mais recente “reboot” da DC acontecerá logo após a saga “Flashpoint”, quando as revistas serão reiniciadas, e os personagens reformulados… e outros nem chegarão a existir nessa realidade, como é o caso da já citada no título deste post: Donna Troy.  (Título, aliás, que foi inspirado na matéria que Lois Lane escreveu no filme Superman Returns. Mas não vamos perder o foco…)
Assim são os quadrinhos, nossos queridos personagens ficcionais vivem a mercê de editores malignos que tramam constantemente a sua “não existência”, ou a sua “existência
"Dianinha" estreia seu novo traje de Moça Maravilha...
compacta”. Ainda bem que, embora muito queridos, a gente saiba que eles não são de verdade… quer dizer, se um personagem morre nos quadrinhos, ele sempre pode voltar. (E acaba voltando mesmo, mesmo que demore um pouco). Na vida real, se perdemos alguém, isso sim é pra sempre. Isso sim é motivo de tristeza e até revolta. Embora a morte seja algo que queiramos evitar ao máximo possível, no fundo todos sabemos o quanto ela é inevitável e necessária. Parafraseando a famosa canção da banda Queen,   - “Quem quer viver para sempre”?
Mas esse não é o ponto. Não é o motivo desse texto ter sido escrito.
Sabe, eu andei pensando… na vida real, quantas vezes a nossa realidade é alterada? Quantos “reboots” nós passamos? Quantas transformações? Você muda de escola, de bairro, de cidade, de amigos… pessoas chegam, outras vão embora… você se apaixona, se decepciona, se apaixona de novo…
...e deixa de ser Moça Maravilha para assumir o manto de "Tróia".
Quanto eu tinha nove anos, ficava esperando o ônibus da escola me buscar. Durante o trajeto, conhecia outras crianças, de outras salas, mais novas, mais velhas. Tinha uma menina chamada Emanuelle. Ela era a minha melhor amiga. A gente conversava e ria muito durante o caminho de ida e volta pra escola. Durante aquele ano letivo, fomos inseparáveis.
Depois disso, nós nunca mais nos vimos.
Quantas outras crianças havia no mesmo ônibus? Elas também foram minhas amigas em algum momento, embora eu não me lembre mais do rosto de nenhuma delas. Pessoas de verdade, com sonhos, defeitos e virtudes. Mas elas foram apagadas da minha realidade.
Donna Troy foi criada na época da clássica Turma Titã. Aqui no Brasil, ela chegou a ser
A evolução do uniforme.
chamada de “Dianinha” em suas primeiras aparições. Com o passar dos anos, a personagem cresceu, em idade e importância. Teve sua origem recontada algumas vezes, sendo a mais famosa a clássica história “Quem é Donna Troy”? de Marv Wolfman e George Pérez. Embora seja a mais empolgante, não foi a definitiva. Donna foi muitas mulheres e nenhuma. Viveu várias vidas… irmã mais nova da Mulher Maravilha, réplica mística da Mulher Maravilha, órfã salva por Diana da morte e criada como amazona na Ilha Paraíso, órfã salva da morte pelos deuses Titãs e criada como uma de suas “sementes” no planeta Nova Chronos. Foi dito até mesmo que ela teria sido uma espécie de “Precursora”, salva pelo ser conhecido como Monitor, numa tentativa de encaixar a personagem no contexto da Crise Infinita. Um grande equívoco. Em certo momento, fomos apresentados a personagem “Anjo Negro” que perseguia Donna, fazendo-a morrer e reviver milhares de vidas… enfim, não resta dúvida do quanto ficou complexo explicar a existência dela em um universo DC que anseia por zerar e simplificar todos os seus personagens.
Moça Maravilha, Tróia, Darkstar, Deusa da Lua, Mulher Maravilha e etc… Donna era muitíssimo querida especialmente pelos fãs mais antigos dos Novos Titãs. Fica difícil imaginar a trajetória da equipe sem ela.
Ela foi princesa, heroína, mãe, esposa, guerreira, deusa e mulher. Porém, quando o universo mudou novamente, os editores e roteiristas precisaram se perguntar: “Por que precisamos de Donna Troy”? E a resposta, prática e cruel não foi outra:
“Não precisamos”.
Por todas as pessoas que passaram pela minha vida, as quais eu não posso reencontrar em edições antigas de gibis, eu sinto essa pontinha de tristeza e saudade, e torço para que todos estejam bem e felizes.
Por Donna Troy, personagem com quem vibrei, admirei e me emocionei só fica um único pensamento: “Bom descanso. E até o próximo reboot”.

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